Há bocado estive a cozinhar umas coisas que nunca tinha experimentado fazer. Ao pé de duas amigas muito boas cozinheiras e que fazem tudo muito depressa e a despachar.
Eu entretanto lá ía fazendo as minhas tentativas para melhorar a técnica. Enquanto tocava todos os ingredientes com muito cuidado e amor.
Elas explicaram-me a melhor forma de trabalhar com aquele aparelho que eu raramente tinha usado. Foi optimo pois evoluí muito mais rápido do que fizesse as tentativas sòzinha.
Mas o resto foi mesmo um desastre.
Afirmaram peremptoriamente que eu não tinha sentido de humor...
Implicavam com piadas contínuas por eu fazer tudo com calma e cuidado. Por pegar na comida como se estivesse a fazer-lhe festinhas. E riam-se muito. Continuaram com piadas até que eu disse que não gostava daquilo e que parassem.
Então veio uma catadupa de explicações; que não tinha sido por mal, etc. E que elas eram muito despachadas e deitavam tudo a despachar para dentro das tigelas e dos tachos. E que em família andavam sempre a gozar uns com os outros, etc.
Eu criei uma barreira energética e deixei-me estar a fazer as minhas coisas calmamente. Não valia a pena estar a explicar-lhes a liturgia alquímica de transformar o espírito em matéria, sempre presente na preparação da comida.
Afinal até gosto delas e estavam a fazer o melhor que sabiam. Como toda a gente.
Depois das explicações terem acalmado falei que também achava, desde sempre, as partidas um simples abuso de poder, que não tinham nada a ver com sentido de humor.
Pois o único tipo de humor saudável é pelo paradoxo.
Lá ficaram as duas a argumentar muito de acordo uma com a outra. E eu calma e concentradamente a cozinhar.
Agora, aqui para nós que ninguém nos ouve, escrevo o que não tive pachorra de lhes dizer:
- Que grandes pressas e despachações são meros sinais de falta de auto-estima. De achar que se deveria estar sempre a fazer algo diferente ou noutro lugar. E os ataque delas só me confirmaram que eu atingi plenamente os meus antigos objectivos.
- E quanto às palavras e piadas continuo muito cuidadosa; pois actualmente tenho consciência de ser co-criadora do meu Universo.