domingo, 26 de agosto de 2007

O nenúfar e os peixes



Tenho andado mesmo encantada com a vida no meu lago.

Foi o meu avô quem o mandou fazer. E é um ecosistema equilibrado que se mantém há mais de meio século. Ultimamente enchi-o com água diamante.
Água diamante da PMT e não a da cristaloterapia!
Portanto não vale a pena assaltarem-me o jardim para revolverem o lodo à procura de diamantes que não estão lá nenhuns.
Entretanto dou comigo embevecida olhar para os peixes. A ver o que andam a fazer.

Conheço pessoas que compram telescópios para espreitar os vizinhos. Outros espreitam a vida dos personagens das novelas na tv.

Eu encanto-me nesta contemplação. Cheia de Paz.
Alguns têm barbatanas e caudas longas.
Ondulantes.
Lindas!

Também lá vivem uns de 3 caudas; mas os infelizes nadam de uma forma muito desajeitada. Isto de deformar animais para os tornar engraçados é mesmo um absurdo.

E então um desgraçado de um peixe preto, com olhos telescópicos e muitas caudas, este vê-se e deseja-se até para fazer coisas simples e vitais como comer e nadar. Por isto é que devem morrer muito mais rápido do que todos os outros. Nunca mais volto a comprar nenhum. Apesar do feng-shui os recomendar.

O pobre bicho há bocado nem uma lentilha de água conseguiu que lhe entrasse na boca depois de muitos esforços. Os outros peixes abrem a boca e entram logo meia dúzia de lentilhas que são prontamente engolidas. Este passa o dia a abrir a boca à superfície da água. Deve comer qualquer coisa invisível para mim. Sei é que todos os outros cresceram para o dobro logo no primeiro mês e este há meses que por alí anda e sempre do mesmo tamanho.

Na verdade tem uma cauda que parece uma crinolina do século XVIII.

Porém a boca mal se abre. Mantém sempre o ar de menino a fazer beicinho. Que só deve ter muita graça para o aprendiz de feiticeiro que o criou.

O bom de tantos peixes é que já quase não tenho mosquitos.

Nas lojas onde os fui comprando queriam sempre vender-me rações. Mas isto é um lago em permacultura e que vive segundo a lei do menor esforço. Têm até comida demais.

Ainda esta manhã tive de andar a retirar plantas aquáticas para compostar. Senão nem a água se via. E eles passam os dias a pastar por baixo da camada verde que sobrenada.

Ontem encontrei um peixe a boiar. Morto. Retirei-o e vi que tinha um arranhão ao lado da barbatana peitoral esquerda. Os gatos andaram à caça durante a noite e apesar de não o terem conseguido comer deixaram-no ferido até que morreu. Já não acontecia isto há muitos meses.

Tenho de voltar a enxotar vigorosamente os gatos, lindos e de guiso, que gostam de usar o meu jardim como território de caça. E retrete seca também...

Estava a gostar tanto de os ver a dormir pelas sombras durante a tarde.

Além de que eles adoram comer rãs e eu só consegui trazer uma. A qual fez com que desaparecessem quase todas as lesmas que por ali andavam.

Quanto à vida emocional e romances dos peixes é que ainda não descortinei nada de interesante. Lamento esta lacuna emocional no big brother do meu lago.

Bem, agora me lembro de um episódio. Passo a contar.

O maior peixe encarnado não tem grandes barbatanas ondulantes. Não lhe acho grande interesse quando aparece no meu angulo de visão. Ora este bicho, há uns meses, ficou muito lento e gordo. Parecia um submarino. Andava sempre com peixes atraz dele a perseguirem-no. Davam-lhe cabeçadas na barriga. E eu sem perceber nada de tanta agressividade em tão calmos seres.

Entretanto há 2 semanas descobri alevins muito pequeninos. Foi assim que me lembrei que o tal peixe lento, gordo e feio tinha emagrecido. Já sei que tenho uma fêmea, pelo menos.

Publiquei também a foto dos dois protagonistas. Vale a pena amplia-las.

Bem... esta história tem tantas emoções tumultuosas como as têm os peixes...

Quanto ao nenúfar foi a única flor no meu jardim que atraiu a visita de uma abelha. Até a consegui fotografar pousada nela. Noutro dia publico-a.

Agora vou lá para fora. A rã vai assustar-se. E saltar para a água do alto da rocha ou do cimo de uma folha de nenúfar, onde estava a apanhar sol. Depois fica a espreitar-me, escondida entre os jacintos de água.

E eu na minha contemplação, olho embevecida para os animais e as plantas do meu lago.

É que o nenúfar tem um botão a crescer, ainda dentro de água e uma nova folha que se está a abrir... ;-)