quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Grande mistério desvendado! ou O vegetarianismo tem de ser feito com sabedoria.


Grande mistério era exatamente o que se tinha tornado a falta de efeitos na dieta de uma cliente minha.
Tomar a decisão de se tornar vegetariana ou macrobiótica é muito bonita; mas é necessário ter apoio de um naturópata experiente. Vi demasiada gente ficar fraquíssima por causa de um vegetarianismo que podemos chamar selvagem.
Comer batatas fritas com ovos, queijo e ketcup, depois uma tablete de chocolate como sobremesa está dentro das normas lacto-ovo-vegetarianas porem dá cabo da saúde.
Era de tal forma o enigma que eu e a minha cliente decidimos que eu precisava ir passar um dia a casa dela.
Ela jurava-me a pés juntos que fazia tudo o que eu recomendava; contudo enigmaticamente continuava com os mesmos problemas. Nunca tinha visto nada assim.
Lá fui passar 24 h em sua casa.
Vive num palacete do fim do seculo XIX. Perto de Lisboa. Lindo.
A cozinha tinha sido modernizada q.b. Tudo dentro dum bom gosto extremo e perfeito.
Comecei por almoçar. Nunca tinha visto um arroz integral tão vazio de energia.
Aquilo nem um cadáver de arroz era. Quando muito era um esqueleto de arroz!
Explicou-me que só comprava um arroz pré-cozido no supermercado. O preço pouco superior era e poupava muito tempo à empregada.
O molho do peixe tinha sido feito com natas de soja, cubos de caldo e ketchup dietéticos. A salada foi de tomate. O sal não era integral sequer.
Quanto à sobremesa era um souflè de laranja só com pouquíssimo açúcar amarelo.
Só numa quente primavera súbita e precoce se aguentaria tal alimentação!
Ao chá fomos ao bar lindo de um hotel que eu adoro. E ela também. Tomou um chá verde com um biscoito seco. Eu bebi água.
Jantamos uma sopa com uns queijos frescos magros. Eu tinha-me posto a fritar algas antes de jantar, pois já estava a sentir-me mal.
Partimo-las em pedacinhos sobre a sopa. Misturei ameixa umeboshi no queijo. O pão era de Mafra. Delicioso. Mas... com aditivos e resíduos doutros processos sofridos.
Quando entrei no meu quarto vejo uma cama de dossel que não podia ser mais bonita, os lençois eram giríssimos todavia de mistura com o bendito 50% de poliester. O edredão com fibras sintéticas também. Tal como a colcha. Só a coberta a condizer com as cortinas, era de fibra natural. Mas retirada todos os fins de dia, quando abriam as camas.
O pijama também era lindo, mas sintético. Para não amachucar e se manter sempre impecável.
Disse-lhe logo que eu assim nunca iria conseguir dormir. E só me admirava que ainda alguém conseguisse dormir numa cama daquelas.
Andamos à procura, pelas arcas, dos lençois de 100% algodão do tempo do enxoval e os cobertores velhos, mas em 100% lã. Refizemos as camas.
Contudo procuramos e não encontramos pijamas ou camisas de noite em fibra natural. Mas a empregada emprestou-nos dois pijamas de malha de algodão só para aquela noite. Graças a Deus salvou-nos: era uma empregada interna!
Na manhã seguinte comi umas papas de aveia com malte. A dona de casa um kiwi com um iogurte modernaço, daqueles com transgénicos marados, pois era a única forma de lhe fazer funcionar os intestinos.
Assim não admira que ela tomasse comprimidos para dormir, granulado para a prisão de ventre e se sentisse sem forças para enfrentar o natural stress que acompanha os desafios da vida.
E os suplementos alimentares comia-os às colheres em vez de os incluir na cozinha em receitas deliciosas: polen, levedura de cerveja, mel, etc.
De colaboração com a brasileira Lurdinhas cozi na panela de pressão um arroz integral de agricultura bio, comprado na ervanária vizinha. Preparamos um tofu estufado para comer com o arroz. Uma salada de alface bio com molho de levedura de cerveja. Depois um kanten de maçã.
Foi mesmo muito difícil encontrar lá em casa uma fruta que não fosse tropical.
Almoçamos e vim-me embora.
Com o mistério resolvido.
Isto de tentar fazer uma vida saudável nos dias de hoje tem muitas armadilhas. E as piores consequências.

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