sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Imprensa Cor-de-Rosa, manequins e vestidos de velha












A imprensa cor-de-rosa é uma parte cada vez importante nos mass media de hoje.
Todavia há umas décadas não era assim.
A Maria Armanda Falcão mudou de nome para Vera (de verdade) e Lagoa (porque era esse o vinho que estavam a beber) para fazer crónica social na década de 60.
Vera Lagoa tornou-se um personagem muito importante na sociedade e no Diário Popular, quando o apoio de Francisco Pinto Balsemão tornou possível a publicação da sua coluna Bisbilhotisses.
Na imagem à direita está mais um bocado de papel amarelecido que encontrei nas minhas arrumações. Uma dessas colunas Bisbilhotisses de 1973 em que a Vera fala em mim.
Curiosamente, anos depois, vivi mais de 30 anos pertíssimo de onde era essa Boutique Anna.
Pode clicar na imagem para a aumentar e poder ler.
À esq temos outro recorte de uma revista. Lá estou eu outra vez com a Marluce e outras colegas manequins, depois de uma passagem em Braga. E ao lado uma foto precisamente da Vera com o Francisco Balsemão.
Perguntavam-me se entre nós manequins se havia competição.
Entre os melhores manequins não me parece que houvesse competição. Trabalhavamos sempre juntas e eramos escolhidas precisamente por sermos diferentes. Escolhiam uma loura, outra ruiva, outra morena, outra mulata, etc.
Quem teria inveja de nós seriam as que não estavam ao primeiro nível.
Lembro-me de uma colega que fazia par comigo numa dessas passagens de fábrica. Uma tarde vinha um jornalista importante, Abel Dias, fazer uma reportagem para a TV-Guia.
Então esta colega insistiu imenso para trocarmos o vestidos. Acedi.
Na semana seguinte ela ficou uma fúria quando abriu a revista e viu publicada exactamente a minha foto com o vestido dela.
É que a minha carreira foi feita acima de tudo na base de eu conseguir passar os "vestidos de velha".
Explico: nas colecções os vestidos mais vendidos, ou pelo menos muito vendidos, eram os vestidos menos bonitos, segundo os padrões das miúdas que nós éramos: os vestidos para as senhoras crescidas e com dinheiro. Na época eram as várias versões de uns camiseiros de malha com botões ou cruzados na frente. Muito confortáveis mas nada favorecedores.
Ora segundo me disseram só eu e a Sofia Thomar podíamos mostrá-los sem ficar com um ar miserável.
A Sra. D. Carmem da Carmem Modas uma tarde no Palácio do Conde de Òbidos disse:
-Esses vestidos só podem ser para a Maria Afonso; que ele dá-lhes um ar etéreo e as clientes compram por julgarem que também ficam como a Maria.
Portanto era raríssimo que me dessem os vestidos mais bonitos...